O tratamento da diverticulite complicada é um desafio, sobretudo em doentes imunodeprimidos (IMD). O principal objetivo dos autores do presente estudo foi avaliar os resultados a curto e longo prazo entre os doentes imunodeprimidos e os doentes imunocompetentes (IC). O objetivo secundário foi identificar fatores de risco para cirurgia de emergência. Este estudo foi realizado a partir de uma coorte retrospetiva em 29 centros de referência espanhóis, entre 2015-2019, e incluiu doentes consecutivos com primeiro episódio de diverticulite aguda complicada (Hinchey Ib ou II modificado). Nos doentes IMD foram incluídos aqueles sob terapêutica imunossupressora ou biológica, portadores de neoplasia maligna com quimioterapia ativa e doentes sob corticoterapia crónica. Os autores procederam a uma análise multivariada para identificar fatores de risco independentes para cirurgia de urgência em doentes IMD com diverticulite aguda complicada Hinchey Ib e II. Foram assim incluídos 1395 doentes, 118 dos quais IMD. Quando comparados (IMD vs. IC) quanto à necessidade de cirurgia urgente, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (19,5% e 13,5%, p= 0,075), apresentando, contudo, o grupo de doentes IMD, maior mortalidade (15,1% vs. 0,6%, p< 0,001). Os episódios recorrentes de diverticulite aguda nos dois grupos foram semelhantes (28% vs. 28,2%, p= 0,963). Da análise multivariada, foram identificados seis fatores independentes associados à necessidade de cirurgia urgente, como sejam a terapêutica imunossupressora, a presença de “bolhas” de ar livre na TC, o estádio Hinchey II , a necessidade de morfina, abcessos com dimensões acima dos 5 cm e a presença de leucocitose ao terceiro dia. A terapêutica da diverticulite aguda complicada com abcesso no doente IMD é ainda controverso. O tratamento conservador neste grupo de doentes demonstrou ser seguro, com uma taxa de falência semelhante à dos doente IC. No entanto, os doentes IMD com necessidade de cirurgia urgente apresentaram uma taxa de mortalidade significativamente elevada. Neste estudo identificaram-se fatores de risco independentes para cirurgia de emergência no grupo dos doentes IMD, mas na coorte, a severidade clínica foi similar nos episódios recorrentes. Por conseguinte a IMD não constitui uma indicação absoluta para a ressecção cólica eletiva. Estas conclusões dos autores está em consonância com as recomendações mais atuais, que consideram que, após o tratamento médico (sem necessidade de cirurgia), bem-sucedido, a decisão de fazer uma ressecção eletiva deve seguir os mesmos princípios dos doentes IC, e não é recomendada por rotina (Hall et al., 2020; Sartelli et al., 2020; Schultz et al., 2020). Hall, J., Hardiman, K., Lee, S., Lightner, A., Stocchi, L., Paquette, I. M., Steele, S. R., & Feingold, D. L. (2020). The American Society of Colon and Rectal Surgeons Clinical Practice Guidelines for the Treatment of Left-Sided Colonic Diverticulitis. Dis Colon Rectum, 63(6), 728-747. https://doi.org/10.1097/dcr.0000000000001679 Sartelli, M., Weber, D. G., Kluger, Y., Ansaloni, L., Coccolini, F., Abu-Zidan, F., Augustin, G., Ben-Ishay, O., Biffl, W. L., Bouliaris, K., Catena, R., Ceresoli, M., Chiara, O., Chiarugi, M., Coimbra, R., Cortese, F., Cui, Y., Damaskos, D., De' Angelis, G. L., Delibegovic, S., Demetrashvili, Z., De Simone, B., Di Marzo, F., Di Saverio, S., Duane, T. M., Faro, M. P., Fraga, G. P., Gkiokas, G., Gomes, C. A., Hardcastle, T. C., Hecker, A., Karamarkovic, A., Kashuk, J., Khokha, V., Kirkpatrick, A. W., Kok, K. Y. Y., Inaba, K., Isik, A., Labricciosa, F. M., Latifi, R., Leppäniemi, A., Litvin, A., Mazuski, J. E., Maier, R. V., Marwah, S., McFarlane, M., Moore, E. E., Moore, F. A., Negoi, I., Pagani, L., Rasa, K., Rubio-Perez, I., Sakakushev, B., Sato, N., Sganga, G., Siquini, W., Tarasconi, A., Tolonen, M., Ulrych, J., Zachariah, S. K., & Catena, F. (2020). 2020 update of the WSES guidelines for the management of acute colonic diverticulitis in the emergency setting. World J Emerg Surg, 15(1), 32. https://doi.org/10.1186/s13017-020-00313-4 Schultz, J. K., Azhar, N., Binda, G. A., Barbara, G., Biondo, S., Boermeester, M. A., Chabok, A., Consten, E. C. J., van Dijk, S. T., Johanssen, A., Kruis, W., Lambrichts, D., Post, S., Ris, F., Rockall, T. A., Samuelsson, A., Di Saverio, S., Tartaglia, D., Thorisson, A., Winter, D. C., Bemelman, W., & Angenete, E. (2020). European Society of Coloproctology: guidelines for the management of diverticular disease of the colon. Colorectal Disease, 22(S2), 5-28. https://doi.org/https://doi.org/10.1111/codi.15140
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