SÓCIOS
Março 2024

ARTIGOS DO MÊS

Título: Monitoring Patients with Inflammatory Bowel Disease at High Risk of Anal Cancer
Autores: Cassandra A. Cairns, Raymond K Cross, Mariam Khambaty, Andrea C. Bafford
Publicado: American Journal of Gastroenterology (janeiro de 2024)
DOI: 10.14309/ajg.0000000000002503
 
No passado dia 4 de março assinalou-se o Dia Internacional da Consciencialização do HPV. Tendo como mote esta data, destaco uma revisão publicada no mês de janeiro no American Journal of Gastroenterology sobre a seguimento dos doentes com doença inflamatória intestinal (DII) com risco mais elevado de cancro anal.
Nos últimos 40 anos, alguns estudos e relatos de casos têm demonstrado que os doentes com DII apresentam um risco aumentado de cancro do canal anal. Contudo, não existem algoritmos de rastreio, diagnóstico e tratamento nesta subpopulação de doentes.
Este artigo resume a literatura mais recente sobre cancro do canal anal em doentes com DII, e descreve os desafios inerentes ao diagnóstico e tratamento neste contexto.
Os autores propõem um algoritmo para avaliação de doentes com fatores de risco para cancro anal (fístulas perianais crónicas, história prévia de condilomas, mulheres com citologia cervicovaginal anormal) que se inicia com a realização de um exame proctológico e uma citologia do canal anal. Na presença de alterações da citologias deve ser realizada uma anuscopia de alta resolução.
Os autores destacam ainda a importância da vacinação do HPV e da realização de uma cuidada avaliação do canal anal, em retroversão, em todas as colonoscopias.
Em suma, esta revisão alerta para um cancro raro mas mortal em doentes com DII, oferecendo diretrizes práticas para o seu rastreio, diagnóstico e tratamento.
 
Referência: Monitoring Patients With Inflammatory Bowel Disease at High Risk of Anal Cancer
Am J Gastroenterol. 2024 Jan 1;119(1):81-86. 
DOI:10.14309/ajg.0000000000002503.
PMID: 37721307 DOI: 10.14309/ajg.0000000000002503
 
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O tratamento da diverticulite complicada é um desafio, sobretudo em doentes imunodeprimidos (IMD). O principal objetivo dos autores do presente estudo foi avaliar os resultados a curto e longo prazo entre os doentes imunodeprimidos e os doentes imunocompetentes (IC). O objetivo secundário foi identificar fatores de risco para cirurgia de emergência.

Este estudo foi realizado a partir de uma coorte retrospetiva em 29 centros de referência espanhóis, entre 2015-2019, e incluiu doentes consecutivos com primeiro episódio de diverticulite aguda complicada (Hinchey Ib ou II modificado). Nos doentes IMD foram incluídos aqueles sob terapêutica imunossupressora ou biológica, portadores de neoplasia maligna com quimioterapia ativa e doentes sob corticoterapia crónica. Os autores procederam a uma análise multivariada para identificar fatores de risco independentes para cirurgia de urgência em doentes IMD com diverticulite aguda complicada Hinchey Ib e II. Foram assim incluídos 1395 doentes, 118 dos quais IMD. Quando comparados (IMD vs. IC) quanto à necessidade de cirurgia urgente, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (19,5% e 13,5%, p= 0,075), apresentando, contudo, o grupo de doentes IMD, maior mortalidade (15,1% vs. 0,6%, p< 0,001). Os episódios recorrentes de diverticulite aguda nos dois grupos foram semelhantes (28% vs. 28,2%, p= 0,963). Da análise multivariada, foram identificados seis fatores independentes associados à necessidade de cirurgia urgente, como sejam a terapêutica imunossupressora, a presença de “bolhas” de ar livre na TC, o estádio Hinchey II , a necessidade de morfina, abcessos com dimensões acima dos 5 cm e a presença de leucocitose ao terceiro dia.

A terapêutica da diverticulite aguda complicada com abcesso no doente IMD é ainda controverso. O tratamento conservador neste grupo de doentes demonstrou ser seguro, com uma taxa de falência semelhante à dos doente IC. No entanto, os doentes IMD com necessidade de cirurgia urgente apresentaram uma taxa de mortalidade significativamente elevada. Neste estudo identificaram-se fatores de risco independentes para cirurgia de emergência no grupo dos doentes IMD, mas na coorte, a severidade clínica foi similar nos episódios recorrentes. Por conseguinte a IMD não constitui uma indicação absoluta para a ressecção cólica eletiva. Estas conclusões dos autores está em consonância com as recomendações mais atuais, que consideram que, após o tratamento médico (sem necessidade de cirurgia), bem-sucedido, a decisão de fazer uma ressecção eletiva deve seguir os mesmos princípios dos doentes IC, e não é recomendada por rotina (Hall et al., 2020; Sartelli et al., 2020; Schultz et al., 2020).

 
Hall, J., Hardiman, K., Lee, S., Lightner, A., Stocchi, L., Paquette, I. M., Steele, S. R., & Feingold, D. L. (2020). The American Society of Colon and Rectal Surgeons Clinical Practice Guidelines for the Treatment of Left-Sided Colonic Diverticulitis. Dis Colon Rectum, 63(6), 728-747. https://doi.org/10.1097/dcr.0000000000001679

Sartelli, M., Weber, D. G., Kluger, Y., Ansaloni, L., Coccolini, F., Abu-Zidan, F., Augustin, G., Ben-Ishay, O., Biffl, W. L., Bouliaris, K., Catena, R., Ceresoli, M., Chiara, O., Chiarugi, M., Coimbra, R., Cortese, F., Cui, Y., Damaskos, D., De' Angelis, G. L., Delibegovic, S., Demetrashvili, Z., De Simone, B., Di Marzo, F., Di Saverio, S., Duane, T. M., Faro, M. P., Fraga, G. P., Gkiokas, G., Gomes, C. A., Hardcastle, T. C., Hecker, A., Karamarkovic, A., Kashuk, J., Khokha, V., Kirkpatrick, A. W., Kok, K. Y. Y., Inaba, K., Isik, A., Labricciosa, F. M., Latifi, R., Leppäniemi, A., Litvin, A., Mazuski, J. E., Maier, R. V., Marwah, S., McFarlane, M., Moore, E. E., Moore, F. A., Negoi, I., Pagani, L., Rasa, K., Rubio-Perez, I., Sakakushev, B., Sato, N., Sganga, G., Siquini, W., Tarasconi, A., Tolonen, M., Ulrych, J., Zachariah, S. K., & Catena, F. (2020). 2020 update of the WSES guidelines for the management of acute colonic diverticulitis in the emergency setting. World J Emerg Surg, 15(1), 32. https://doi.org/10.1186/s13017-020-00313-4
Schultz, J. K., Azhar, N., Binda, G. A., Barbara, G., Biondo, S., Boermeester, M. A., Chabok, A., Consten, E. C. J., van Dijk, S. T., Johanssen, A., Kruis, W., Lambrichts, D., Post, S., Ris, F., Rockall, T. A., Samuelsson, A., Di Saverio, S., Tartaglia, D., Thorisson, A., Winter, D. C., Bemelman, W., & Angenete, E. (2020). European Society of Coloproctology: guidelines for the management of diverticular disease of the colon. Colorectal Disease, 22(S2), 5-28. https://doi.org/https://doi.org/10.1111/codi.15140

 
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