SÓCIOS
Agosto 2024

ARTIGOS DO MÊS

 
Gwenzi T, Schrotz-King P, Anker SC, Schöttker B, Hoffmeister M, Brenner H. Post-operative C-reactive protein as a strong independent predictor of long-term colorectal cancer outcomes: consistent findings from two large patient cohorts. ESMO Open. 2024 Apr;9(4):102982. 
 
Este trabalho, publicado pela ESMO, revela a utilidade de um marcador inflamatório da prática diária, atribuindo-lhe uma faceta de prognóstico a médio e longo prazo no CCR particularmente no doente com idade inferior a 65 anos à data do diagnóstico.
Os biomarcadores sanguíneos pós-cirurgia podem ser úteis para orientar as decisões de tratamento e vigilância dos doentes com cancro colo-rectal (CCR). No entanto, a maioria dos biomarcadores candidatos têm pouco ou nenhum valor preditivo para além do estádio no momento do diagnóstico. O objetivo deste estudo foi investigar o valor prognóstico independente da PCR a longo prazo do CCR em duas grandes coortes de doentes. 
Os níveis de PCR foram medidos a partir de amostras de soro de doentes com CCR recolhidas 1 mês após a cirurgia nas coortes alemãs DACHS (n 1⁄4 1416) e UK Biobank (n 1⁄4 1149). 
As associações da PCR no pós-operatório com a sobrevivência global (OS no artigo original), e a sobrevivência específica do CCR (CSS no artigo original) foram avaliadas utilizando a regressão de Cox e apresentadas como rácios de risco, com intervalos de confiança de 95%, ajustados para as principais co - variáveis sociodemográficas e clínicas. 
Em ambas as coortes, foram observadas fortes e consistentes relações dose-resposta entre a PCR avaliada no pós-operatório, tanto a sobrevida global como a sobrevida específica. 
As associações entre a PCR pós-operatória e a sobrevida global foram particularmente fortes entre os pacientes mais jovens (<65 anos ao diagnóstico; valor de P para a interação por idade <0,01).
A PCR sérica determinada um mês ou mais após a cirurgia permite não só decisões terapêuticas e também para a vigilância do curso da doença de pacientes com CRC, particularmente aqueles <65 anos de idade ao diagnóstico.
 
 
António Oliveira
 
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Prophylactic Versus Endoscopy-driven Treatment of Crohn’s Postoperative Recurrence: A Retrospective, Multicentric, European Study [PORCSE Study]
 
A doença de Crohn é uma doença inflamatória crónica cuja abordagem é complexa e inevitavelmente multidisciplinar. Nas últimas décadas assistiu-se ao desenvolvimento crescente de novas terapêuticas médicas. Todavia, metade dos doentes com doença de Crohn necessitam ainda de uma ou mais cirurgias ao longo da vida.
A ressecção ileocecal é a abordagem cirúrgica mais frequentemente utilizada, mas a recorrência endoscópica pós-operatória está descrita em cerca de 80% no primeiro ano após a cirurgia. Atualmente, não existe consenso acerca da melhor abordagem para reduzir a recorrência pós-operatória da doença de Crohn. As guidelines da AGA recomendam o início de tratamento profilático após a ressecção ileocecal a todos os doentes, enquanto que, as guidelines da ECCO recomendam profilaxia unicamente nos doentes com pelo menos um fator de risco de recorrência.

O estudo PORCSE é um estudo retrospetivo, observacional, multicêntrico que incluiu 346 doentes, de 26 centros europeus, com doença de Crohn submetidos à primeira ressecção ileocecal. O objetivo deste estudo foi comparar a estratégia proativa (início imediato da terapêutica biológica ou imunomodeladora após a cirurgia) com a estratégia reativa  (início da terapêutica biológica ou imunomodeladora consoante os achados endoscópicos aos 6-12 meses após a cirurgia).

Os resultados apontam para uma taxa de recorrência endoscópica pós-operatória (Rutgeerts >i1) significativamente mais baixa com a estratégia proativa (41.5% vs 53.8%, OR 1.81, p = 0.039). O estudo sugere benefícios da estratégia proativa mas também não exclui a estratégia terapêutica reativa, destacando que 22.5% dos doentes do grupo com estratégia terapêutica reativa não necessitaram de iniciar terapêutica durante o estudo. Assim, a terapêutica profilática precoce pode não ser realmente necessária para todos os doentes.
O tabagismo é apontado, mais uma vez, como um importante fator de risco para a recidiva, associando-se a um risco 2,5 vezes superior de recidiva endoscópica, destacando a cessação tabágica como um ponto fulcral na abordagem destes doentes.

Este estudo demonstra a superioridade da estratégia proativa, porém a sua aplicabilidade fica limitada tendo em conta que se trata de um estudo retrospetivo. Estudos prospetivos são necessários para determinar qual a estratégia terapêutica mais assertiva, quais os doentes que realmente beneficiam da terapêutica precoce e quais os doentes que beneficiam em manter apenas vigilância.
 
Sandra Barbeiro
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