Artigo do Mês – Abril 2024
Comentário:
A DISEASES OF THE COLON & RECTUM de abril de 2024, constituiu a base de leitura para a opção do artigo deste mês. Nos últimos anos, uma panóplia de artigos, sobre a abordagem do cancro do reto, preenchem a larga maioria das nossas revistas de cirurgia, mas sobre o adenocarcinoma do canal anal, pouco se fala. Na realidade esta entidade é rara, controversa em alguns aspetos, desde a sua definição até à sua melhor abordagem terapêutica, contudo, parece que a sua incidência terá tendência a aumentar nos próximos anos.
Este artigo “Anal Adenocarcinoma Treated in the Era of Total Neoadjuvant Therapy and Nonoperative Management”, pareceu-me interessante, porque é o primeiro a descrever a possibilidade de uma abordagem neoadjuvante total (TNT) com cCR, conduzindo a um protocolo de W&W. Apesar de algumas limitações como o número limitado de casos e com base num estudo retrospetivo, os resultados publicados são promissores.
Embora alguns estudos ainda preconizem, uma terapêutica de CRT, semelhante ao tratamento do carcinoma espinocelular, o tratamento aconselhado para o adenocarcinoma do canal anal (AAC), em linha com as diretrizes da NCCN, é semelhante ao tratamento do cancro do reto. Os resultados deste trabalho, confirmam esta orientação, mostrando, igualmente, a viabilidade de após uma terapêutica neoadjuvante com cCR, a opção de abordagem conservadora, com taxas de preservação de órgão, sobrevida global e sobrevida livre de recidiva, aceitáveis.
Finalmente, destacar o fato que os AAC diagnosticados em doentes com IBD-associada, neste estudo, nenhum deles foi incluído numa abordagem W&W, estando igualmente associados a piores “outcomes”.
Nesta mesma revista, encontrei um VIEWPOINT, que me pareceu oportuno partilhar pela sua importância, sob o título Quality Still Counts.
Garoufalia et al. sugeriram recentemente que a qualidade da “TME” poderia não ser um fator crítico para a recorrência local no cancro do reto e por extensão, no prognóstico destes doentes.
Este artigo de opinião, não se limita à simples crítica desta ideia, ainda sem evidência científica sustentada, para ser validada na prática clínica, mas coloca uma série de questões pertinentes, particularmente na era da abordagem laparoscópica, que implicam investigação futura e que poderão, sem dúvida, conferir informações valiosas, que ajudam a orientar no futuro, para novas estratégias cirúrgicas.
Embora as opções terapêuticas e as variáveis preditivas e prognósticas continuem a evoluir, é importante manter os mesmos níveis de exigência na qualidade cirúrgica e em pacientes submetidos a ressecção com intensão curativa do cancro do reto, a qualidade do mesorreto (“holy plane”) é ainda um indicador dessa qualidade.